Eu nasci como nasce quarqué vagabundo
  Até hoje eu não soube quem foram meus pais
  Eu cresci nas tabernas ao som das garrafas
  Pescando de linha na beira do cais
  
  Se almoço eu não janto, se janto eu não sei
  Pra mim é o bastante comer uma vez
  Pra casa eu não levo nenhum desaforo
  Eu visito a cadeia dez vezes por mês
  
  Nas noites escuras se eu tenho dinheiro
  Às vezes me enfio num grosso pifão
  Nas noites de lua me encosto na esquina
  Cantando modinha com meu violão
  
  Lá pra meia-noite que o sono me aperta
  Então eu me deito em quarqué lugar
  As pedras da rua são meu travesseiro
  E a porta da igreja me serve de lar
  
  Se saio na rua disposto a brigar
  Todos se intimidam da minha navalha
  E assim vou vivendo sem era, nem bêra
  Gozando as delícias da vida canalha
  
  Lenço no pescoço, cigarro no queixo
  Chapéu desabado, viola na mão
  Se encontro uma briga já vou provocando
  E se topo, a poeira levanta do chão
  
  Eu já quase apanhei por quatro indivíduo
  Numa briga que eu fiz no bar do café
  Valeu a firmeza que eu tenho no pulso
  Valeu a destreza que eu tenho no pé
  
  Dei uma pernada que o chapéu voou
  Era levantar e tornar cair
  Faço isso pra dar trabalho a polícia
  Enquanto que a morte não lembra de mim
  
  (Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)