Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
  A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
  Por me deixar respirar, por me deixar existir
  
  Deus lhe pague
  
  Pelo prazer de chorar e pelo “estamos aí”
  Pela piada no bar e o futebol pra aplaudir
  Um crime pra comentar e um samba pra distrair
  
  Deus lhe pague
  
  Por essa praia, essa saia, pelas mulheres daqui
  O amor malfeito depressa, fazer a barba e partir
  Pelo domingo que é lindo, novela, missa e gibi
  
  Deus lhe pague
  
  Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
  Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir
  Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cair
  
  Deus lhe pague
  
  Por mais um dia, agonia, pra suportar e assistir
  Pelo rangido dos dentes, pela cidade a zunir
  E pelo grito demente que nos ajuda a fugir
  
  Deus lhe pague
  
  Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
  E pelas moscas-bicheiras a nos beijar e cobrir
  E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
  
  Deus lhe pague
  
  
  Por Kleber Fioretto e Lucas Barbosa