Nem assaz alhures e antanho
  Era um evento tamanho
  A sagração nupcial
  Vinha a noiva de gargantilha
  Caçoleta e rendilha
  Diadema e torçal
  
  Mas se houvesse algum embaraço
  Dera a moça um mau passo
  Quanto horror e desdém
  Ela ia parar no convento
  Ia dormir ao relento
  Ou deitar nos trilhos do trem
  
  Do pudor da noiva a bandeira
  Após a noite primeira
  Desfraldava-se ao sol
  A sua virtude escarlate
  Igual brasão de tomate
  Enobrecendo o lençol
  
  Mas se não houvesse tal mancha
  É que outra mancha mais ancha
  Se ocultava por trás
  E o rapaz pagava o malogro
  Com a vendeta do sogro
  Ou com a malícia dos mortais
  
  "Oh meu pai, oh meu pai, por favor
  Condenai o nosso amor
  De langor e luxúria!
  Mas poupai, oh meu pai
  Nosso filho
  Da fúria do Senhor!"
  
  O guri nasceu apressado
  Nem um mês de casado
  Tinha quem o gerou
  Quando o pai caiu nos infernos
  Foi nos braços maternos
  Que ele se pendurou
  
  Quando a mãe caiu na sarjeta
  Foi seguindo a opereta
  Na garupa do avô
  Quando o avô caiu do cavalo
  Foi chorar no intervalo
  E mais um ato começou
  
  Palhaço, corista
  Trapézio, dançarina
  Maestro, cortina
  É fé na flauta e pé na pista
  
  
  
  1983 © - Marola Edições Musicais Ltda.