Chegando o tempo do inverno
  Tudo é amoroso e terno
  No fundo do Pai eterno
  Sua bondade sem fim
  
  Sertão amargo, esturricado
  Ficando logo transformado
  No mais imenso jardim
  Num lindo quadro de beleza
  
  No campo, até na floresta
  As aves lá se manifestam
  Compondo a sagrada orquestra
  Da natureza em festa
  
  Tudo é paz, tudo é carinho
  Na construção dos seus ninhos
  Cantam alegres os passarinhos
  
  O camponês vem prazenteiro
  Plantar o seu feijão ligeiro
  Pois é o que vinga primeiro
  Nas terras do meu sertão
  
  Depois que o poder celeste
  Mandar a chuva pro nordeste
  De verde a terra se veste
  E corre água em borbotão
  
  A mata com seu verdume
  As fulô com seu perfume
  Se enfeita de vaga-lume
  Nas noites de escuridão
  
  Nesta festa alegre e boa
  Canta o sapo na lagoa
  E o trovão no Arreboa
  
  Com a força dessa água nova
  O peixe e o sapo na desova
  O camaleão que se renova
  O verde-cana, que cor!
  
  Grande cordão de borboletas
  Amarelinhas, brancas e pretas
  Fazendo tanta pirueta
  Com medo do bem-te-vi
  
  Entre a mata verdejante
  Seu pajé extravagante
  O gavião assartante
  Que corre atrás da juriti
  
  Nessa harmonia comum
  Num alegre zum zum zum
  Cantam todos os bichinhos