Trocar o logos da posteridade
  Pelo logo da prosperidade
  
  Celebra-se, poeta que se é
  Durante um tempo a idéia radical
  De tudo importar, se para o supremo ser
  De nada importar, se para o homem mortal
  
  Abarrotam-se os cofres do saber
  Um saber que se torne capital
  Um capital que faça o futuro render
  Os juros da condição de imortal
  
  (Mas a morte é certa!)
  
  Trocar o logos da posteridade
  Pelo logo da prosperidade
  
  E assim por muito tempo busca-se
  O cuidadoso esculpir da estátua
  Que possa atravessar os séculos intacta
  Tornar perpétua a lembrança do poeta
  
  Mas chega-se ao cruzamento da vida
  O ser pra um lado, pra outro lado o mundo
  Sujeita-se o poeta à servidão da lida
  Quando a voz da razão fala mais fundo
  
  E essa voz comanda:
  
  Trocar o logos da posteridade
  Pelo logo da prosperidade
  
  E o bom poeta, sólido afinal
  Apossa-se da foice ou do martelo
  Para investir do aqui e agora o capital
  No produzir real de um mundo justo e belo
  
  Celebra assim, mortal que já se crê
  O afazer como bem ritual
  Cessar da obsessão pelo supremo ser
  Nascer do prazer pelo social
  
  E o poeta grita:
  
  Trocar o logos da posteridade
  Pelo logo da prosperidade
  
  Eis o papel da grande cidade
  Eis a função da modernidade