Não tenho medo da vida, mas sim medo de viver
  Eis a loucura assumida, você há de imaginar
  É que a vida atou-se a mim
  Desde o dia em que eu nasci
  Viver tornou-se, outrossim, o modo de desatar
  Viver tornou-se o dever de me desembaraçar
  
  A vida é somente um dom, independente de quem
  Seja capaz de gritar, seu nome alto e bom som
  A vida seria um tom, uma altura a se atingir
  Viver é saber subir, alcançar a nota lá
  Lá no ponto de ferir, se preciso, até sangrar
  
  Não tenho medo da vida, mas medo de viver, sim
  A vida é um dado em si, mas viver é que é o nó
  Toda vez que vejo um nó, sempre me assalta o temor
  Saberei como afrouxá-lo, desatá-lo eu saberei
  A vida é simples, eu sei, mas viver traz tanta dor!
  
  A dor na carne e na alma, a calma a se propagar
  A durar dia após dia, a varar noite, a dormir
  A ver o amor a vir a ser, a ter e a tornar
  A amanhecer de novo e de novo um novo dia
  Isso às vezes me agonia, às vezes me faz chorar