Agora que agora é nunca
  Agora posso recuar
  Agora sinto minha tumba
  Agora o peito a retumbar
  Agora a última resposta
  Agora quartos de hospitais
  Agora abrem uma porta
  Agora não se chora mais
  Agora a chuva evapora
  
  Agora ainda não choveu
  
  Agora tenho mais memória
  
  Agora tenho o que foi meu
  
  Agora passa a paisagem
  Agora não me despedi
  Agora compro uma passagem
  Agora ainda estou aqui
  Agora sinto muita sede
  
  Agora já é madrugada
  
  Agora diante da parede
  Agora falta uma palavra
  Agora o vento no cabelo
  
  Agora toda a minha roupa
  
  Agora volta pro novelo
  Agora a língua em minha boca
  Agora meu avô já vive
  Agora meu filho nasceu
  Agora o filho que não tive
  Agora a criança sou eu
  Agora sinto um gosto doce
  
  Agora vejo a cor azul
  
  Agora a mão de quem me trouxe
  
  Agora é só meu corpo nu
  
  Agora eu nasço lá de fora
  Agora minha mãe é o ar
  Agora eu vivo na barriga
  Agora eu brigo pra voltar
  Agora
  Agora
  Agora