Meu Deus, eu ando
  Com o sapato furado
  Tenho a mania
  De andar engravatado
  A minha cama
  É um pedaço de esteira
  Uma lata velha
  É que me serve de cadeira
  
  Minha camisa
  Foi encontrada na praia
  A gravata foi achada
  Na Ilha da Sapucaia
  Meu terno branco
  Parece casca de alho
  Foi a deixa de um cadáver
  Acidente de trabalho
  
  O meu chapéu
  Foi de um pobre surdo e mudo
  As botinas foi de um velho
  Da revolta de Canudos
  Quando eu saio a passeio
  Mulher dama sai falando
  Eu me viro aqui na vida
  E o malandro vai gozando
  
  A refeição é que é interessante
  Na tendinha do Tinoco, no pedir eu sou constante
  E o português, meu amigo sem orgulho
  Me sacode um caldo grosso, carregado no entulho