Estamos chegando do funda da terra
Estamos chegando do ventre da noite
Da carne do açoite nós somos
Viemos lembrar
Estamos chegando da morte dos mares
Estamos chegando dos turvos porões
Herdeiros do banzo nós somos
Viemos chorar
Estamos chegando dos pretos rosários
Estamos chegando dos nossos terreiros
Dos santos malditos nós somos
Viemos rezar
Estamos chegando do chão da oficina
Estamos chegando do som e das formas
Da arte negada que somos
Viemos criar
Estamos chegando do fundo do medo
Estamos chegando das surdas correntes
Um longo lamento nós somos
Viemos louvar
A de ó
Estamos chegando dos ricos fogões
Estamos chegando dos pobres bordéis
Da carne vendida que somos
Viemos amar
Estamos chegando das velhas senzalas
Estamos chegando das novas favelas
Das margens do mundo nós somos
Viemos dançar
Estamos chegando dos trens dos subúrbios
Estamos chegando nos loucos pingentes
Com a vida entre os dentes chegamos
Viemos cantar
Estamos chegando dos grandes estádios
Estamos chegando da escola de samba
Sambando a revolta chegamos
Viemos gingar
A de ó
Estamos chegando do ventre de minas
Estamos chegando dos tristes mocambos
Dos gritos calados nós somos
Viemos cobrar
Estamos chegando da cruz dos engenhos
Estamos sangrando a cruz do batismo
Marcados a ferro nós fomos
Viemos gritar
Estamos chegando do alto dos morros
Estamos chegando da lei da baixada
Das covas sem nome chegamos
Viemos clamar
Estamos chegando do chão dos quilombos
Estamos chegando no som dos tambores
Dos novos palmares nós somos
Viemos lutar
A de ó