Um nasce pra ser artista
  Um outro pra ser doutor
  Um nasce pra ser sambista
  Muitos nascem sem valor
  
  Eu vim ao mundo otimista
  Nasci pra ser glosador
  Cantando e contando histórias
  Que é a sina do cantador
  
  Gloso as belezas da vida
  Gloso a tristeza e a dor
  Gloso a esperança perdida
  Gloso o perfume da flor
  
  Gloso a amizade fingida
  E a vida com desamor
  Cantando e contando histórias
  Que é a vida do cantador
  
  Ao homem que faz a guerra
  Ao que só fala de paz
  Ao que promete e não cumpre
  E diz que faz, mas não faz
  
  Não pode dar minha glosa
  Que é ferina e mordaz
  Por isso é que eu vou cantando
  Cantando cada vez mais
  
  Há o que só canta protesto
  Pensando em seu bem-estar
  Toma bom vinho no almoço
  Toma champagne ao jantar
  
  Protesta de mentirinha
  Não lhe interessa mudar
  Por isso é que eu vou cantando
  Que a vida é pra se cantar
  
  Gloso a miséria e a fome
  Gloso a riqueza também
  Gloso quem tem automóvel
  Gloso quem anda de trem
  
  Pois neste mundo de surdos
  Ninguém escuta ninguém
  Por isso é que eu vou cantando
  Cantando eu me sinto bem
  
  Se a carapuça lhe assenta
  Nesta glosa que eu fiz
  Não fique contrariado
  Com aquilo que a gente diz
  
  Procure ser educado
  Fingindo que está feliz
  Eu vou seguindo cantando
  E o povo pedindo bis