Eu sou do tempo em que cantavam os seresteiros
Um violeiro sem bagagem, sem tostão
E nesta terra conheci o bom da vida
Canto pra quem acredita na voz do coração
Comprei um baio de trote bem macio
Chamei de Raio por seu passo bem ligeiro
E trabalhei dias e horas a fio
Seguindo as águas deste rio tornei-me um bom cavaleiro
Fiz minha casa lá no pé daquela serra
Toda cercada com a invernada bem de fronte
E da varanda avista a passarada
Que seguia alvoroçada o caminho dessa fonte
De água pura, bem gelada e cristalina
Coisa sagrada essa tal água de mina
Bebi um gole e fiz meu pensamento
Se eu mereço, já é tempo, de ter minha menina
Foi quando eu vi no campo de trigo dourado
A tal menina de cabelo aveludado
A pele branca tinha um cheiro de flor
Mais eu sabia que o amor deixava tudo perfumado
E nos olhamos com zelo e muito espanto
Mas no entanto eu já quis lhe carregar
Foi quando ela devagar chegou bem perto
E disse, você está certo estou aqui pra me casar
E nos casamos na quermesse de domingo
E eu sorrindo nem podia acreditar
Não era sonho, era a minha realidade
A menina de verdade água pura fez brotar
Se a minha história lhe parece inventada
Não diga nada e nem revele a alguém
Mas se acredita nas façanhas desta vida
Conte que este violeiro é feliz como ninguém