MESTRE-SALA
O mestre-sala me tomou por uma negra,
roubou a minha noite
para o brilho das estrelas.
Doce é tê-las
sob as telhas.
O mestre-sala me tomou por um poema,
roubou a minha rima
para a musa do cinema
que me acena
nesta cena.
Me tomou por um pavão.
roubou as minhas penas,
foi dançar pro rei de Atenas.
Me tomou por uma chita,
pintou-me toda de flores
e alegrou comendadores.
Me tomou por vagalume,
levou-me a luz acesa
para os olhos da princesa.
O mestre-sala, ele viu que eu era santa
despiu-me sem vidraça
para estranhos numa praça
pra sagrar-me,
pra sangrar-me.
pra sangrar-me.
O mestre-sala me tomou por um perfume,
levou-me com a brisa
para o rei na sua frisa
à guisa de
amizade.
Me tomou por paisagem
roubou a minha vista
para os olhos da turista.
Me tomou por uma fada,
levou minha varinha
pros desejos da rainha.
Me tomou por mel de abelha,
levou minha doçura
pro jantar da prefeitura.