Maria dama da noite
Teve um pesadelo
Numa noite chuvosa
Em que um anjo lhe dizia:
"Tenha coragem,
Pois a dor lhe espreita
Numa dessas esquinas...
No teu ventre,
Já se encontra teu filho amado
Que reinará nas madrugadas tristes.
E os dias se passaram
Longos, cansados
E nasceu seu filho
numa manhã de dezembro.
E o rei mau
Era a miséria e a fome
E a estrela guia
Uma vela acessa na sala
Os reis magos três
homens cansados cheirando
aguardente
Em suas mãos, não traziam nada
E foi crescendo esse pequenino
Como hoje crescem
os pequenos na estrada
Entre a multidão
que passa correndo
E a solidão das noites
caladas, coladas
Como folhas sem raízes
soltas ao vento
Como pássaros de asas cortadas
E assim se fez um homem
frio e sedento
E seus passos foram
sombras na madrugada
Sula lei era a necessidade
e os seus amigos doze homens
maus encarrados
Seus milagres
eram as cicatrizes
E seu peito a noite
Sua fé uma arma prateada
É, e o final dessa história
Todos nós sabemos demais
Como sempre a traição,
um disparo
E na manhã seguinte,
Um uma cena triste no quintal
Uma Maria chorando
em algum lugar da cidade
E uma Madalena chorando também
Um lavar as mãos
em águas paradas
E uma praga na boca de alguém
E uma outra Maria na estrada
Onde a noite é triste
E a solidão uma espada
E uma outra Maria na estrada
Onde a noite é triste
E a solidão é uma espada
E uma outra
Maria na estrada...
E uma praga
na boca de alguém...
E a solidão
nas noites caladas...
OBS.: Esta canção integra
o elepê "Viva Vanusa" - 1979.
CD: 2 LPs em 1 CD.