Eu entendo a noite como um oceano
  Que banha de sombras o mundo de sol
  A aurora que luta por um arrebol
  De cores vibrantes e ar soberano
  Um olho que mira nunca o engano
  Durante o instante que vou contemplar
  
  Além, muito além onde quero chegar
  Caindo a noite me lanço no mundo
  Além do limite do vale profundo
  Que sempre começa na beira do mar
  É na beira do mar
  
  Ói, por dentro das águas há quadros e sonhos
  E coisas que sonham o mundo dos vivos
  Há peixes milagrosos, insetos nocivos
  Paisagens abertas, desertos medonhos
  Léguas cansativas, caminhos tristonhos
  Que fazem o homem se desenganar
  Há peixes que lutam para se salvar
  Daqueles que caçam em mar revoltoso
  E outros que devoram com gênio assombroso
  As vidas que caem na beira do mar
  É na beira do mar
  
  E até que a morte eu sinta chegando
  Prossigo cantando, beijando o espaço
  Além do cabelo que desembaraço
  Invoco as águas a vir inundando
  Pessoas e coisas que vão se arrastando
  Do meu pensamento já podem lavar
  Ah! no peixe de asas eu quero voar
  Sair do oceano de tez poluída
  Cantar um galope fechando a ferida
  Que só cicatriza na beira do mar
  É na beira do mar