Retrato Cantado
Quem me vê sentado
Atrás dessa mesa de escriturário
Não vê o tarado, o louco, o sanguinário
O bárbaro sem véu
O estripador cruel

Não me vê no convés
De um veleiro de três mastros
Me guiando pelos astros
A caminho de Bornéu

Não sabem que eu roubo
Meninos na praça quando a tarde cai
E que os vespertinos já me apelidaram
De monstro assassino do Parque Shangai

Mas eles não sabem
Que eu sou gigolô de beira de cais
Que eu sou o autor do crime da mala
Que eu larguei o trapézio por beber demais

E nem imaginam
As atrocidades que vou cometer
Não desconfiam
Que a causa de tudo
É não conseguir me esquecer de você
Eu não consegui me esquecer de você