Muralhas da Solidão
Mãe, eu recebi suas lembranças
E me senti uma criança
Ao receber sua benção
Mãe, ai senti a realidade
Do quanto dói uma saudade
Do quanto sofre um coração
Mãe, eu por aqui vou indo bem
Eu por você rezo também
Minha mãezinha, santa que é
Mãe, do silêncio que é o seu grito
Do seu amor que é infinito
Fiz minha profissão de fé
Aqui é tão difícil a liberdade
Só a injustiça e a falsidade
Andam embaçando os horizontes
Mãe, aqui qualquer nervo de aço
Se transforma em mil pedaços
Pela rotina massacrante
Mãe, aqui tudo é diferente
Eu vivo em meio a tanta gente
E me sinto só com minha dor
Mas essa dor eu a transformo num sorriso
E meu inferno em paraíso
Ao plantar na lama e colher uma flor
Declamo:
Seis horas...
Apaga-se a luz de mais um dia na tarde tristonha um sino tange, momento de orações... Ave Maria.
Tudo vai ficando quieto, só da cidade se ouve alarido
Burburinho de carro, metrô e sons coloridos chegam com a gargalhada de uma criança
E assim todo nosso ambiente vai se fazendo mais cercado e silente pelas muralhas da solidão e da desesperança
Nove horas...
A sentinela lá da sua guarita distante
Sobre um dos portões fortes e gigantes
Inicia o toque de silêncio em seu clarim.
O cerco da solidão vai se apertando
A medida que as luzes vão se apagando
Noite dos fantasmas e tenebrosa pra mim.
Mãe, tenho que parar porque agora aqui tudo é silêncio.