A Carta Que Não Foi Mandada
                          
                               Paris, outono de setenta e três
  Estou no nosso bar mais uma vez
  E escrevo pra dizer
  Que é a mesma taça e a mesma luz
  Brilhando no champanhe
  Em vários tons de azuis.
  
  No espelho em frente eu sou
  Mais um freguês.
  Um homem que já foi feliz, talvez.
  E vejo que em seu rosto
  Correm lágrimas de dor.
  Saudade, certamente, de algum grande amor.
  
  Mas ao vê-lo assim tão triste e só,
  Sou eu que estou chorando
  Lágrimas iguais.
  É, a vida é assim, o tempo passa
  E fica relembrando
  Canções do amor demais.
  
  Sim, será mais um, mais um qualquer
  Que vem de vez em quando
  E olha para trás.
  É, existe sempre uma mulher
  Pra se ficar pensando.
  Nem sei, nem lembro mais.