Rock Romance de Um Robo Goliardo
                          
                               Alô rapaziada! Alô gente fina! Alô moçada!
  Eu sei que vocês estão com a vida que pediram a Deus
  E ele deu
  Muito que bem! Por isso espero tudo de vocês
  Mas não confiem em mim: Eu não existo!
  Sou apenas um personagem que diz isto
  E não me chame irresponsável
  Para que levar a vida assim tão a serio?
  Afinal, a vida é mesmo uma aventura
  da qual não sairemos vivos
  Ah! Tudo já é outra viagem!
  Abra com meu velho canivete seu jovem coração de lata
  Entre no barco eletrônico da emoção barata
  Vamos, na crista da onda
  Dar um balanço cibernético nas horas!
  Pulsars, quasars, buracos negros, astros, guerra e paz
  Amor nas super-estrelas
  Robô goliardo deste tempo
  Narro a minha vida começando pelo fim
  É bem melhor assim
  Vou contar pra vocês a vida que eu inventei pra mim
  
  
  O som do alto-falante rolava e me dava um toque
  E chuck berry, berrando
  Em sua guitarra era um choque
  Cometas halley passando
  Astros no pó de Woodstock, cabeças, pedras rolantes
  Jim, jimi, john, janis joplin
  E a moçada do subúrbio
  Cinemas, topetes, motos
  
  (Rock 'n roll)
  
  E digo mais: Até parece que foi ontem!
  Tinha roubado o carro do meu pai
  Brigado com o cara do bairro vizinho
  por causa de uma garota
  Estava saindo do chuveiro
  Novinho em folha, um artista diante do espelho!
  Pondo brilhantina no cabelo
  E mercúrio cromo num corte de gilete do meu rosto
  Vesti o blusão de couro, liguei a motocicleta
  Queria sair voando pra pegar meu broto
  Entrar na sessão das cinco
  Tomar um sorvete lá na lanchonete
  Dar um rolê por aí
  Ia pondo o pé na rua quando a minha velha saltou de lá
  Muito cheia de si, me chamando
  Playboy! Rebelde! Transviado!
  Como se fosse dona do mundo. E foi logo dizendo
  Pra você ver a vida como é!
  A gente cria um bicho desses
  Educa, dá do bom e do melhor
  Casa e comida, roupa lavada, amor, carinho, mesada
  E esse aventureiro termina deixando a escola!
  Fugindo de casa! Maldizendo a família!
  Querendo ser cantor de rock!
  
  Caí na estrada tirana
  A juventude é um dom
  Garotas, sonhos, mil transas, como dar bandeira é bom!
  Olhando a cidade grande, cheia de fúria e de som
  Querendo ser uma estrela, de sexo, laser e neon
  Cidade grande é uma droga mas o rock dá o tom
  
  Qual é o preço de um homem?
  E eu? Pago quanto para ser feliz?
  Cidade morena boca de ouro de tolo
  Luminosos, fliperamas, ondas hertezianas
  Mil escrituras, canções, outros sons!
  Vídeogames, quadrinhos, novelas, televisão
  Informática, cibernética, política, eletrônica, acústica
  Grandes populações, revoluções
  Que destino s. a, indústria de lixo limitada e a dar
  Sociedade anônima
  Assaltantes, abandonados
  bêbados, índios, nordestinos
  retirantes, prostitutas, pivetes
  Punks, pobres, suicidas, solitários
  De onde eles vêm?
  Viciados, velhos, vagabundos
  Sacos de plástico, latas amassadas
  Copos de papel esquecidos no estádio
  Depois dos jogos e das feras
  Miseráveis! Sempre sem pão e daqui a pouco sem circo
  Coisa ante cuja visão dá vontade de morrer
  E a glória? E a honra de seres humanos que Deus criou
  E pôs um pouquinho só abaixo de seus anjos?
  Mas esses senhores não querem nada!
  Não querem perder tempo
  Com essa porcaria que se chama gente!
  Eu não sou cachorro não
  Pra viver assim tão humilhado
  
  
  São mil milhões de habitantes deste parque industrial
  Negros, mulheres, menores, filhos da crise geral
  Iguais pela mesma bomba que vai cair no quintal
  Ídolo e Deus dos esgotos a musa urbana me fez
  Meu sucesso é saber disso e bater tudo pra vocês
  
  (Rock rock rock rock rock 'n roll)
  
  É isso aí, rapaziada! É isso aí, gente fina!
  Talvez a gente pudesse dizer adeus de outro jeito
  Mas eu sou um antropófago urbano
  Um canibal delicado na selva da cidade
  Mais dia menos dia... Eu como você. E você como eu!
  Ora, ora! Sempre houve um lugarzinho a mais
  para alguém
  Debaixo dos meus lençóis
  
  (Rock rock rock rock rock 'n roll)