Cidadão Nordestino
Você que ainda não conhece,
As verdades que eu conheço,
Vou contar antes do fim,
Sou um pacato cidadão,
Que vem das caatingas e agrestes,
Sêcas torrantes de lá do sertão,
De onde o vento faz a curva,
Onde o relâmpago e a chuva,
São sinais de salvação,
Trago no meu rosto cansado,
Marcas de lágrimas choradas,
Pela aflição do meu povo,
Que vê o verde das folhas sumindo,
Animais a fome consumindo,
Sem haver nenhum socorro,
Cansei de ver tanta lástima,
A morte cometer desgraças,
Por direitos desumanos,
Eu que tenho o coração menino,
Montei, galopei no tempo,
Arribei, feito um peixe,
Mas devo afirmar amigo,
Que por hipotese alguma,
Desprezarei meu torrão,
Apesar de tantos pesares,
A falta de fertilidade,
Raios me partam,
Se eu não amo aquele chão.

Há meu Deus quanta saudade,
Do meu sabiá cantador,
Do meu pé de engazeira,
Da minha rede de corda,
Meu cachorro caçador,
Que o bom Deus unipotente,
Se lembre daquela gente,
Dê tudo abundantemente,
Faça brotar toda semente,
Extermine o clamor.