Toda Aflicao do Mundo
                          
                               A procela da noite é um breu
  A tempestade vem castigar
  A fé que te enxuga o choro
  Dispara o arpão do olhar
  
  Nos cachopos de um mar sem nau
  Nenhum sextante só intuição
  Por entre calhaus sem alma vaga
  A incauta embarcação
  
  Toda ambição do mundo sequestrando você
  Toda ambição do mundo torturando teu ser
  
  Pavilhões em mastros sem lei
  Tremulam rotos sobre o convés
  Alianças que te acorrentam o pulso
  Ao remo das galés
  A ampulheta se esvai em vão
  E a areia é um deserto onde naufragou
  O teu tesouro de tolo
  Num oceano que secou
  
  Soluções, solidões do mundo pervertendo um prazer
  E aberrações do mundo te fazendo descrer
  Toda aflição do mundo e o mundo nas mãos
  O mundo nas mãos, o mundo nas mãos
  
  É a arma na mão de um fraco mandando obedecer
  A potência de sofrimento, o que tem a oferecer
  A ameaça é o seu instrumento, o que sabe tocar
  Natureza negou o talento de se fazer amar
  
  Pra desenhar o retrato do outro
  Lado que o olho te ensina a viver
  Sem o modelo despido no medo
  Só a leveza infantil de aprender
  Joga-se o ressentimento emprestado
  Não representa de fato você
  No recipiente a ser reciclado
  Dele mistura-se um novo matiz
  O velho papel que te embrulha é pesado
  O novo te leve a um presente feliz
  Nem é preciso enfeitar nenhum laço
  Sabe-se laço afetivo ou refém
  Sabe-se lá o fundamento do vício
  Sempre custar o sacrifício de alguém
  Importa saber como fica o afeto
  Em tempos de cólera ele adormeceu
  Também (desídia)
  Afetou (na ágora) a quem
  (Quem chora?) Você e eu, e agora?
  
  Hoje a águia só quer planar
  Sobre os camarotes do coliseu
  Onde Zeus dá seu show de horrores
  E ao povo as dores que prometeu
  
  Soluções, solidões do mundo pervertendo um prazer
  E aberrações do mundo te fazendo descrer
  Toda ambição do mundo sequestrando você
  Toda aflição do mundo
  E o mundo nas mãos
  O mundo nas mãos, o mundo nas mãos