Lobo Preso em Renda
                          
                               Depois do exagero sem sossego
  Seu enredo mágico ruiu
  O dia amanhecendo o desespero
  Vem batendo
  Com medo mais frágil bem triste
  
  Repete o roteiro mil vezes
  Reflete no espelho a face foge finge
  E o intenso movimento agora é tenso
  falho apático, estático, pífio
  
  De repente se desprende do barato
  O fogo fácil farto de artifícios
  E o líquido inflamável ficou imprestável
  estanque sem combustível
  
  Mas desses carnavais recentes
  Nada que eu me lembre
  Tudo uma mesmice
  
  Assopra trilha
  Sussurra suave
  Nave madrugada
  Invade sumindo
  
  Sexo a venda ali na esquina
  Sangue na piscina
  Dois cortados pulsos
  
  Fantasia da vontade
  Oásis da miragem
  Imagem filtrado fetiche
  
  Não dá pra dividirem com todos
  Coisas que uns poucos
  Conseguem entender
  
  Guardar como tesouro
  O furioso monstro
  Que hoje dorme
  Mas mora em você
  
  Ficar louco para ficar solto
  Experimentar um outro
  Modo de ser
  
  Mas só se sente solto
  Quando fica louco
  Tranca a grade
  Sem chave nem trinco
  
  O lobo preso em renda
  Sente dor horrenda
  Isolado do mundo
  
  A lua cheia
  Que o mar pranteia
  Gruda gomos brancos
  Numa tangerina
  
  Se o olho vai pro alto
  Trampolim pro salto
  No asfalto espatifa
  
  Mosaico ladrilho hidráulico
  Emblemático prático signo
  
  Segunda-feira tá na fossa
  Terça mais disposta
  Quarta já em pleno pique
  
  Quinta whisky
  Sexta um outro drinque
  Pulou o sábado
  Morre o domingo
  
  A vida inteira
  Usa russa roleta
  Sua camuflagem antissuicida
  
  Acende um cigarro
  Da um longo trago
  Joga pro alto
  Logo distraído
  
  Complexo raciocínio espectro istmo convexo nexo implícito
  Confessa que não lembra ao certo
  "Qual foi o trajeto que me trouxe aqui? "
  
  A prima foi um toque
  A morte um choque forte o corte fundo cicatriza
  Mas a vida grita avisa
  que uma vítima também forja o próprio crime