De Qualquer Maneira
                          
                               Quem tudo olha quase nada enxerga
  Quem não quebra se enverga
  A favor do vento
  Eu não sou perfeito
  Sei que tenho de pecar
  Mas arranjo sempre um jeito
  De me desculpar
  
  Eu lá na Penha agora vou estifa¹
  Mas não vou como um cafifa²
  Quem foi lá desacatar
  Mas a força falha
  Ele teve um triste fim
  Agredido a navalha
  Na porta de um botequim
  
  Pra ver a minha santa padroeira
  Eu vou à Penha
  De qualquer maneira...
  
  Faz hoje um mês que fui naquele morro
  E a Juju pediu socorro
  Lá da ribanceira
  Toda machucada
  Saturada de pancada
  Que apanhou do seu mulato
  Por contar boato
  
  Meu coração bateu a toda pressa
  E eu fiz uma promessa
  Pra mulata não morrer...
  Pela padroeira
  Ela foi bem contemplada
  Levantou do chão curada
  Saiu sambando fagueira
  
  Eu vou à Penha de qualquer maneira
  Pois não é por brincadeira
  Que se faz promessa
  E o tal mulado
  Para não entrar na lenha
  Fez comigo um contrato
  Pra sumir da Penha
  
  Quem faz acordo não tem inimigo
  A mulata vai comigo
  Carregando o violão
  E com devoção
  Junto à santa milagrosa
  Vai cantar meu samba prosa
  Numa primeira audição
  
  
  ¹ Gíria da época: alinhado, bem-vestido.
  ² Gíria da época: sujeito sem sorte.