Luto
                          
                               Ai, meu carnaval...
  Que é que 'cê fez,
  Homem ruim?
  Ai, pobre de mim,
  Mais uma vez
  Fiquei tão mal
  Do início ao fim
  Dessa festa que meu pai me deu para treino
  espiritual.
  
  Não fale em mágoa de amor comigo,
  Ciúme, culpa, rejeição: não ligo.
  Quero polir meu coração de pedra
  Em frevos místicos
  Na luz que medra
  Por entre as máscaras, caras e lâmpadas
  E mesmo a estampa das
  [camisetas de reclame -
  Não me chame, não me odeie, não me ame.
  
  Não, meu carnaval,
  Não pode ser
  Que eu já perdi;
  Não, ponto final:
  Eu e você
  Acaba aqui,
  Sem carnaval -
  Essa festa que meu pai me deu para treino
  espiritual.
  
  Agora é só cinza na cabeça;
  Desapareça, por favor, da minha frente.
  A minha mente está na Castro Alves,
  Na Rio Branco, no Marco Zero,
  Maracatu, Sapucaí - eu quero
  - E o camarote e cada anúncio de produto.
  'Tou com raiva, 'tou com pena, 'tou de luto.
  
  Ai, meu carnaval...
  Vou recompor
  Meu coração.
  Ai, não tem perdão
  Pra quem vetou
  O ritual
  Da inspiração -
  Essa festa que meu pai legou para treino espiritual:
  Meu puro amor, o carnaval.