Segunda
                          
                               Segunda é dia de branco
  Vou arrastar meu tamanco
  Quem não tem dinheiro em banco
  Madruga e Deus não ajuda
  
  Sexta-feira eu dou o arranco
  No sábado aguento o tranco
  Chega no domingo estanco
  Na segunda tudo muda
  
  Digo isso com alegria
  Não vejo o nascer do dia
  Mas pela Virgem Maria
  Tenho dinheiro e patrão
  
  Eu mesmo sou mei galego
  O meu chefe no emprego
  É que é mulato pra nego:
  Só ecos da escravidão
  
  Se conhece pela bunda
  Pela tristeza profunda
  Mas é só dele a segunda
  Eu foi que herdei a senzala
  
  Mas agora a minha sala
  Tem geladeira de gala
  À dele quase se iguala
  Muda o mundo em barafunda
  
  Vou arrastar meu tamanco
  Que amanhã volto à peleja
  Quem não me mata me beija
  Mas ninguém morre de inveja
  
  Essa é a última cerveja
  Bendigo quem vai à igreja
  Quem não vai, louvado seja
  Segunda é dia de branco