Cantoria
                          
                               Amar é um dom, há que saber o tom
  E entoar bem certo a melodia
  O povo enxerga a luz de uma voz sincera
  E canta com ela em sintonia
  Cantar é uma luz, um enfunar de velas
  É compreender a canção como um navio
  Que vai zarpando, ignorando mapas
  Tocando as águas que nem harpas
  Por conta do destino
  
  Compor, saibam vocês, é mais que um desatino
  Esmiuçar a dor, fio a pavio
  Ofício que deságua o sofrimento
  É escoar-se inteiro como um rio
  E eu me ponho a compor feito um cigano
  Que busca noutra luz seu próprio lume
  E me pergunto quem é mais insano
  Se eu, um rouxinol
  Se tu, um vaga-lume