Ecos do Ão
                          
                               Rebenta na febem rebelião
  Um vem com um refém e um facão
  A mãe aflita grita logo: não!
  E gruda as mãos na grade do portão
  Aqui no caos total do cu do mundo cão
  Tal a pobreza, tal a podridão
  Que assim nosso destino na direção
  São um enigma, uma interrogação
  E se nos cabe apenas decepção
  Colapso, lapso, rapto, corrupção?
  E mais desgraça, mais degradação?
  Concentração, má distribuição?
  Então a nossa contribuição
  Não é senão canção, consolação?
  Não haverá então mais salvação?
  Não, não, não, não, não...
  Pra transcender a densa dimensão
  Da mágoa imensa e tão somente então
  Passar além da dor, da condição
  De inferno e céu, nossa contradição
  Nós temos que fazer com precisão
  Entre projeto e sonho a distinção
  Para sonhar enfim sem ilusão
  O sonho luminoso da razão
  E se nos cabe só humilhação
  Impossibilidade de ascensão
  Um sentimento de desilusão
  E fantasias de compensação?
  E é só ruína tudo em construção?
  E a vasta selva só devastação?
  Não haverá então mais solução?
  Não, não, não, não, não...
  Porque não somos só intuição
  Nem só pé de chinelo, pé no chão
  Nós temos violência e perversão
  Mas temos o talento e a invenção
  Desejos de beleza em profusão
  E idéias na cabeça coração
  A singeleza e a sofisticação
  O choro, a bossa, o samba e o violão
  Mas se nós temos planos, e eles são
  O fim da fome e da difamação
  Por que não pô-los logo em ação?
  Tal seja agora a inauguração
  Da nova nossa civilização
  Tão singular igual ao nosso ao
  E sejam belos, livres, luminosos
  Os nosso sonhos de nação
  
  
  Fonte: site oficial