O Som do Mundo
                          
                               De pé ás cinco como um monge
  Murmúrio do subúrbio ao longe
  O sol descendo pr'esse lado
  Com a pressa de um advogado
  Às cinco já nessa vigília
  Ao lado, o sono da família
  Nenhuma idéia quanto à salvação
  Nenhuma queixa ou oração
  De pé ás cinco como um louco
  Quem disse que uma vida só é pouco
  "Ó, sol, que bate nesse quarador
  Nomeio-te meu procurador"
  Antenas, flores e pistilos
  Telhados voam mais tranquilos
  Vermelhas telhas e orelhas
  Abertas para o som do mundo
  Mas tudo resiste
  Com força e resignação
  Mas tudo existe
  Do jeito que se pensa ou não
  Ele olha o edifício ao lado
  Quase tudo ainda calado
  Ele olha para o branco do céu
  Nada escrito nesse papel.