Poema dos Olhos da Amada
                          
                               Oh, minha amada
  Que os olhos teus
  
  São cais noturnos
  Cheios de adeus
  São docas mansas
  Trilhando luzes
  Que brilham longe
  Longe nos breus
  
  Oh, minha amada
  Que olhos os teus
  
  Quanto mistério
  Nos olhos teus
  Quantos saveiros
  Quantos navios
  Quantos naufrágios
  Nos olhos teus
  
  Oh, minha amada
  Que olhos os teus
  
  Se deus houvera
  Fizera-os deus
  Pois não os fizera
  Quem não soubera
  Que há muitas eras
  Nos olhos teus
  
  Ah, minha amada
  De olhos ateus
  
  Cria a esperança
  Nos olhos meus
  De verem um dia
  O olhar mendigo
  Da poesia
  Nos olhos teus