Ode Aos Ratos
                          
                               Rato de rua
  Irrequieta criatura
  Tribo em frenética proliferação
  Lúbrico, libidinoso transeunte
  Boca de estômago
  Atrás do seu quinhão
  
  Vão aos magotes
  A dar com um pau
  Levando o terror
  Do parking ao living
  Do shopping center ao léu
  Do cano de esgoto
  Pro topo do arranha-céu
  
  Rato de rua
  Aborígene do lodo
  Fuça gelada
  Couraça de sabão
  Quase risonho
  Profanador de tumba
  Sobrevivente
  À chacina e à lei do cão
  
  Saqueador da metrópole
  Tenaz roedor
  De toda esperança
  Estuporador da ilusão
  Ó meu semelhante
  Filho de Deus, meu irmão
  
  EMBOLADA *
  Rato
  Rato que rói a roupa
  Que rói a rapa do rei do morro
  Que rói a roda do carro
  Que rói o carro, que rói o ferro
  Que rói o barro, rói o morro
  Rato que rói o rato
  Ra-rato, ra-rato
  Roto que ri do roto
  Que rói o farrapo
  Do esfarra-rapado
  Que mete a ripa, arranca rabo
  Rato ruim
  Rato que rói a rosa
  Rói o riso da moça
  E ruma rua arriba
  Em sua rota de rato
  
  °irc