Cotidiano Nº. 2
                          
                               Há dias que eu não sei o que me passa
  Eu abro o meu Neruda e apago o sol
  Misturo poesia com cachaça
  E acabo discutindo futebol
  
  Mas não tem nada, não
  Tenho o meu violão
  
  Acordo de manhã, pão com manteiga
  E muito, muito sangue no jornal
  Mas quando a criançada toda chega
  Eu chego a achar Herodes natural
  
  Mas não tem nada, não
  Tenho o meu violão
  
  Discuto a loteca com a patroa
  Quem sabe nosso dia vai chegar
  E rio porque rico ri à toa
  Também não custa nada imaginar
  
  Mas não tem nada, não
  Tenho o meu violão
  
  Aos sábados em casa tomo um porre
  E sonho soluções fenomenais
  Mas quando o sono vem e a noite morre
  O dia conta histórias sempre iguais
  
  Mas não tem nada, não
  Tenho o meu violão
  
  Às vezes quero crer mas não consigo
  É tudo uma total insensatez
  Aí pergunto a Deus: escute, amigo
  Se foi pra desfazer, por que é que fez?
  
  Mas não tem nada, não
  Tenho o meu violão