Soneto de Intimidade
                          
                               Nas tardes de fazenda há muito azul demais.
  Eu saio às vezes, sigo pelo pasto, agora
  Mastigando um capim, o peito nu de fora
  No pijama irreal de três anos atrás.
  
  Desço o rio no vau dos pequenos canais
  Para ir beber na fonte a água fria e sonora
  E se encontro no mato o rubro de uma amora
  Vou cuspindo-lhe o sangue em tomo dos currais.
  
  Fico ali respirando o cheiro bom do estrume
  Entre as vacas e os bois que me olham sem ciúme
  E quando por acaso uma mijada ferve
  
  Seguida de um olhar não sem malícia e verve
  Nós todos, animais, sem comoção nenhuma
  Mijamos em comum numa festa de espuma.