Um Homem Chamado Alfredo
                          
                               O meu vizinho do lado
  Se matou de solidão
  Ligou o gás, o coitado
  O último gás do bujão
  Porque ninguém o queria
  Ninguém lhe dava atenção
  Porque ninguém mais lhe abria
  As portas do coração
  Levou com ele seu louro
  E um gato de estimação
  
  Há tanta gente sozinha
  Que a gente mal adivinha
  Gente sem vez para amar
  Gente sem mão para dar
  Gente que basta um olhar
  Quase nada
  Gente com os olhos no chão
  Sempre pedindo perdão
  Gente que a gente não vê
  Porque é quase nada
  
  Eu sempre o cumprimentava
  Porque parecia bom
  Um homem por trás dos óculos
  Como diria Drummond
  Num velho papel de embrulho
  Deixou um bilhete seu
  Dizendo que se matava
  De cansado de viver
  Embaixo assinado Alfredo
  Mas ninguém sabe de quê