Ave de Prata
                          
                               É muito mais do que muito
  Muito mais do que quantos anos todos piorei
  É muito mais do que mata
  Muito mais do que morrem
  Todos pela planta do pé
  
  É muito mais do que fera
  Mais do que bicho quando quer procriar
  Uma espécie, sementes da água
  Mistérios da luz
  
  É muito mais do que antes
  Mais do que vinte anos multiplicar
  Dividir a mentira
  Entre cabelos, olhos e furacões
  
  Inventar objetos
  Pela esfinge quando era mulher
  Ave de prata
  Veneno de fogo
  Vaga-lume do mar
  
  O mar que se acaba na areia
  Gemidos da terra apoiados no chão
  
  Entre todos que usam os dentes do arpão
  Apoiados em cada parede pela mão
  Pela mão, que criou, tantas trevas e luz
  
  E cada coisa perdida
  Perdidamente pode se apaixonar
  Pela última vida
  Poucos amigos hão de te procurar
  
  Como é o silêncio?
  E nesse momento, tudo deve calar
  Numa história que venha do povo
  O juízo final