Na Subida do Morro
                          
                               Na subida do morro me contaram
  Que você bateu na minha nêga
  Isso não é direito
  Bater numa mulher
  Que não é sua
  Deixou a nêga quase nua
  No meio da rua
  A nêga quase que virou presunto
  Eu não gostei daquele assunto
  Hoje venho resolvido
  Vou lhe mandar para a cidade
  De pé junto
  Vou lhe tornar em um defunto
  
  Você mesmo sabe
  Que eu sempre fui um malandro malvado
  Somente estou regenerado
  Cheio de malícia
  Dei trabalho à polícia
  Prá cachorro
  Dei até no dono do morro
  Mas nunca abusei
  De uma mulher
  Que fosse de um amigo
  Agora me zanguei consigo
  Hoje venho animado
  A lhe deixar todo cortado
  Vou dar-lhe um castigo
  Meto-lhe o aço no abdômen
  E tiro fora o seu umbigo
  
  Aí meti-lhe o aço, hum! Quando ele ia caindo disse:
  - Moringueira você me feriu!
  Eu então disse-lhe:
  - É claro, você me desrespeitou, mexeu com a minha
  nega.
  - Você sabe quem em casa de vagabundo malandro não
  pede emprego.
  - Como é que você vem com xavecada, está armado; eu
  quero é ver gordura que a banha está cara.
  
  Aí meti a mão lá na duana, na peixeira, é porque eu
  sou de Pernambuco de Olinda, cidade pequena, porém decente,
  peguei o Vargolino pelo abdome,
  desci pelo duodeno, vesícula biliar e fiz-lhe uma
  tubagem; ele caiu, bum
  todo ensangüentado;
  
  E as senhoras como sempre nervosas:
  - Meu Deus esse homem morre, moço.
  - Coitado olha aí está se esvaindo em sangue;
  - Ora minha senhora, dê-lhe óleo canforado,
  penicilina, estreptomicina crebiose, hidrazida e até
  vacina Salbe;
  
  Mas o homem já estava frio; Agora o malandro que é
  malandro não denuncia o outro, espera para tirar a
  forra.
  Então diz o malandro:
  
  Vocês não se afobem
  Que o homem dessa vez
  Não vai morrer
  Se ele voltar dou prá valer
  Vocês botem terra nesse sangue
  Não é guerra, é brincadeira
  Vou desguiando na carreira
  A justa já vem
  E vocês digam
  Que estou me aprontando
  Enquanto eu vou me desguiando
  Vocês vão ao distrito
  Ao delerusca se desculpando
  Foi um malandro apaixonado
  Que acabou se suicidando.