Minha Casa
                          
                               Minha Casa
  
  é mais fácil cultuar os mortos que os vivos
  mais fácil viver de sombras que de sóis
  é mais fácil mimeografar o passado
  que imprimir o futuro
  não quero ser triste
  como o poeta que envelhece
  lendo maiakóvski na loja de conveniência
  não quero ser alegre
  como o cão que sai a passear com o seu dono alegre
  sob o sol de domingo
  nem quero ser estanque
  como quem constrói estradas e não anda
  quero no escuro
  como um cego tatear estrelas distraídas
  amoras silvestres no passeio público
  amores secretos debaixo dos guarda-chuvas
  tempestades que não param
  pára-raios quem não tem
  mesmo que não venha o trem não posso parar
  veja o mundo passar como passa
  uma escola de samba que atravessa
  pergunto onde estão teus tamborins
  pergunto onde estão teus tamborins
  sentado na porta de minha casa
  a mesma e única casa
  a casa onde eu sempre morei