Alteza
                          
                               Quando meu homem foi embora
  Soprou aos quatro ventos um recado
  Que meu trono era manchado
  E meu reino esfiapado
  Sou uma rainha que voluntariamente
  Abdiquei cetro e coroa
  E que me entrego e me dou
  Inteiramente ao que sou
  A vida nômade que no meu sangue ecoa
  Abro a porta do carro fissurada
  Toma-me ao mundo cigano
  E sou puxada por um torvelinho
  Abraça a todos os lugares
  Chamam por mim os bares poeirentos
  E eu espreito da calçada
  Se meu amor bebe por lá
  Como me atraem os colares de luzes
  À beira do caminho
  Errante, pego o volante
  E faço nele o meu ninho
  Pistas de meu homem
  Aqui e ali rastreio
  Parto pra súbitas, inéditas, paisagens.
  Acendo alto o meu farol de milha
  Em cada uma das cidades por que passo
  Seu nome escuto na trilha
  Aldeia da Ajuda, Viçosa
  Porto Seguro, Guarapari, Prado
  Itagi, Belmonte, Prado
  Jequié, Trancoso, Prado
  Meu homem no meu coração
  Eu carrego com todo cuidado
  Partiu sem me deixar nem caixa-postal, direção
  Chego a um lugar
  E ele já levantou a tenda
  Meu Deus! Será que eu caí num laço
  Caí numa armadilha, uma cilada
  E que este amor que toda me espraiou
  Não passou de uma lenda
  Pois quando chego num lugar
  Dali ele já levantou a tenda
  A tenda
  
  
  
  
  (Postado por Cláudio Cleudson)