Salmo
                          
                               Vida
  Oh! Bela, oh! terna, oh! santa
  Vida
  É breve, é grande, é tanta
  Vida
  Ai, de quem não te canta, oh vida?
  Diante da vida delirante
  Ai, de quem, vacilante,
  Repousa e não ousa viver?
  Deve passar toda existência
  Entre o medo e a ansiedade
  Não quero ter calmaria
  Eu quero ser tempestade
  Eu quero ser ventania
  Eu quero andar pela cidade
  Me embriagando de poesia
  Bebendo a claridade
  Da luz do dia.
  Diante da vida comovente
  Ai de quem, tão somente,
  Reclama e não ama viver?
  Deve ter feito dentro d?alma
  Um vasto mar de amargura
  Não quero ter agonia
  Eu quero sim, a locura
  O fogo da fantasia
  Um precipício de aventura
  A vida vindo como orgia
  No ofício da procura
  De todo dia.
  Diante do espelho dos seus olhos, ai, de quem não se vê
  (Não vê seu destino)
  Eu quero ver meu desatino frente a frente e poder dizer:
  - Você é quem sempre me dá prazer.
  Entre você e a calma eu quero ser você, ai!?
  Diante do abismo do mistério, ai, de quem se esconder
  (Não vai saber)
  Eu quero o salto pra vertigem de mim mesmo e poder dizer:
  - Eu era o caos e o caos eu quero.
  Eu quero o nada, o germe, eu quero a origem de tanto querer, ai!
  Diante da vida que é sublime
  Ai, de quem se reprime,
  Se ausenta e nem tenta viver?
  Deve ficar olhando o mundo
  E lamentando sozinho.
  Não quero ter letargia
  Eu quero ser rodamoinho
  Eu quero ser travessia
  Eu quero abrir o meu caminho
  Ser minha própria estrela-guia
  Virar um passarinho
  Cantando a vida assim
  Cantando além de mim
  E além de além do fim.