O Meu Guri
                          
                               Quando, seu moço nasceu meu rebento
  Não era o momento dele rebentar
  Já foi nascendo com cara de fome
  E eu não tinha nem nome prá lhe dar
  Como fui levando, não sei lhe explicar
  Fui assim levando, ele a me levar
  E na sua meninice, ele um dia me disse
  Que chegava lá, olha aí
  
  Olha aí! Ai o meu guri, olha aí
  Olha aí! É o meu guri e ele chega
  
  Chega suado e veloz do batente
  Traz sempre um presente pra me encabular
  Tanta corrente de ouro, seu moço
  Que haja pescoço pra enfiar
  Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro
  Chave, caderneta, terço e patuá
  Um lenço e uma penca de documentos
  Pra finalmente eu me identificar, olha aí
  
  Olha aí! Ai o meu guri, olha aí
  Olha aí! É o meu guri e ele chega
  
  Chega no morro com carregamento
  Pulseira, cimento, relógio, pneu, gravador
  Rezo até ele chegar lá no alto
  Essa onda de assaltos tá um horror
  Eu consolo ele, ele me consola
  Boto ele no colo pra ele me ninar
  De repente acordo, olho pro lado
  E o danado já foi trabalhar, olha aí
  
  Olha aí! Ai o meu guri, olha aí
  Olha aí! É o meu guri e ele chega
  
  Chega estampado, manchete, retrato
  Com venda nos olhos, legenda e as iniciais
  Eu não entendo essa gente, seu moço
  Fazendo alvoroço demais
  O guri no mato acho que tá rindo
  Acho que tá lindo de papo pro ar
  Desde o começo eu não disse, seu moço
  Ele disse que chegava lá, olha aí
  
  Olha aí! Ai o meu guri, olha aí
  Olha aí! É o meu guri
  Olha aí! Ai o meu guri, olha aí
  Olha aí! É o meu guri