Berrante Mudo
                          
                               Depois de ouvir
  Muitas histórias de berrante
  Eu achei interessante
  Contar a minha também
  
  Porque na vida
  Eu nunca fui boiadeiro
  Nem tão pouco berranteiro
  Minha história vai além
  
  Este que eu tenho
  Em minha sala decorando
  Ou talvez simbolizando
  A dura vida da estrada
  
  Faz muito tempo
  Que por mim foi fabricado
  Porém nunca foi usado
  Num transporte de boiada
  
  Eu tinha um sítio
  Pertinho de Pederneiras
  Terra roxa de primeira
  Era a joia da região
  
  Tinha uma junta
  De boi manso ensinado
  Tinha o carro conservado
  Só pra manter trafição
  
  De vez em quando
  Mesmo sem necessidade
  Lá ia eu pra cidade
  Punha o carro no estradão
  
  Quando eu voltava
  Depois da ração comerem
  Os meus bois iam beberem
  Nas águas do ribeirão
  
  E numa tarde
  Lá no alto da invernada
  A morte fez emboscada
  Naquele cedro frondoso
  
  Tão de repente
  Levantou um temporal
  Uma faísca mortal
  Levou o Carinho e Mimoso
  
  E ao perder
  Os meus bois de estimação
  Senti dor no coração
  E chorei feito criança
  
  Com os seus chifres
  Decidi naquele instante
  Fabricar este berrante
  E guardar como lembrança