Herói Sem Medalha (Com Durval e Davi)
                          
                               Sou filho do interior
  Do grande Estado mineiro
  Fui um herói sem medalha
  Na profissão de carreiro
  Puxando tora do mato
  Com doze bois pantaneiros
  Eu ajudei desbravar
  Nosso sertão brasileiro
  Sem vaidade eu confesso
  Do nosso imenso progresso
  Eu fui um dos pioneiros
  
  Veja bem como o destino
  Muda a vida de um homem
  Uma doença malvada
  Minha boiada consome
  Só ficou um boi mestiço
  Que chamava Lobisomem
  Por ser preto igual carvão
  Foi que eu pus esse nome
  Em pouco tempo depois
  Eu vendi aquele boi
  Pros filhos não passar fome
  
  Aborrecido com a sorte
  Dali resolvi mudar
  E numa cidade grande
  Com a família fui morar
  Por eu ser analfabeto
  Tive que me sujeitar
  Trabalhar no matadouro
  Para o pão poder ganhar
  Como eu era um homem forte
  golpeava o gado de corte
  Pros companheiros sangrar
  
  Veja bem a nossa vida
  Como muda de repente
  Eu que às vezes chorava
  Quando um boi ficava doente
  Ali eu era obrigado
  Matar a rês inocente
  Mas certo dia o destino
  Me transformou novamente
  Um boi da cor de carvão
  Pra morrer na minha mão
  Estava na minha frente
  
  Quando eu vi meu boi carreiro
  Não contive a emoção
  Meus olhos encheram d'água
  E o pranto caiu no chão
  O boi me reconheceu
  E lambeu a minha mão
  Sem poder salvar a vida
  Do boi de estimação
  Pedi a conta e fui embora
  Desisti na mesma hora
  Dessa ingrata profissão