Temporal
                          
                               Quem viu a terra gemer
  Nos dentes brancos do mar
  E a laje fria da espuma
  A sete palmos do olhar
  Pisou as curvas do mapa
  E os raios do sol nascente
  Tocou as cordas da harpa
  De aço incandescente
  
  Eu percorri todo o sonho
  No meio da madrugada
  E vi plantações de balas
  Sementes da espingarda
  Eu mato, matas e mata
  Quem fala, não mata não
  Quem cala, consente a fala
  E os gritos do capitão
  
  Quem viu os cachorros negros
  Latindo para o luar
  E o vôo vão dos morcegos
  Gritando mudos no ar
  Conhece a força guardada
  Na mola dos temporais
  Escurecendo as estrelas
  Nos ombros dos generais
  
  A mais cruel armadilha
  Encruzilhada dos fins
  E os alicerces das ilhas
  Roídos pelos cupins
  A fina dor da ferida
  Doendo até no facão
  E o mapa da minha vida
  Na palma da minha mão
  
  Quem viu o braço da sombra
  Das folhas de uma palmeira
  Pousar em carícia longa
  Nos ombros da terra inteira
  Ouviu da boca da noite
  Feroz silêncio mortal
  E viu o bobo da côrte
  Dançando no funeral