Um Índio
Um Índio (letra: Caetano Veloso)



Um índio descerá de uma estrela colorida brilhante

De uma estrela que virá numa velocidade estonteante

E pousará no coração do hemisfério sul, na América num claro instante

Depois de exterminada a última nação indígena

E o espírito dos pássaros, das fontes, de água límpida

Mais avançado que a mais avançada das mais avançadas das tecnologias

Virá, impávido que nem Muhammad Ali

Virá que eu vi, apaixonadamente como Peri

Virá que eu vi, tranqüilo e infálivel como Bruce lee

Virá que eu vi, o axé do afoxé Filhos de Gandhi

Virá

Um índio preservado em pleno corpo físico

Em todo sólido, todo gás e todo líquido

Em átomos, palavras, alma, cor, em gesto, em cheiro, em sombra, em luz, em som, magnífico

Num ponto eqüidistante entre o Atlântico e o Pacífico

Do objeto sim, resplandecente, descerá o índio

E as coisas que eu sei que ele dirá, fará, não sei dizer assim de um modo explícito

Virá, impávido que nem Muhammad Ali

Virá que eu vi, apaixonadamente como Peri

Virá que eu vi, tranqüilo e infálivel como Bruce lee

Virá que eu vi, o axé do afoxé Filhos de Gandhi

Virá

E aquilo que nesse momento se revelará aos povos

Surpreenderá a todos não por ser exótico

Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto quando terá sido o óbvio