Opereta do Moribundo
                          
                               I Funeral de rico
  
  Rico quando vai
  Desta vida, sempre vai de mau humor
  Ir deitado de casaca é um terror
  Abafado e morto de calor
  Aturar a marcha fúnebre
  
  Só de imaginar
  Que os amigos vão deitar nos seus sofás
  Vão tomar os seus vermutes, os seus cristais
  E as suas mulheres principais
  Já na beira do seu túmulo
  
  - Gente, quanta gente
  Que excelente funeral
  - Ficas bem de preto
  E o cabelo ao natural
  - Dizem que o eminente
  Triplicou seu capital
  - Vai sobrar para gente
  Que nem viu ele vivo
  - Tem até donativo
  Para as obras do hospital
  
  II Enterro de pobre
  
  Pobre quando vai
  Sempre dizem que ele vai para uma melhor
  Vai olhando aquela gente a seu redor
  Todos com poeira e com suor
  E ele achando a coisa ótima
  
  Só de imaginar
  Que os amigos vão pagar o seu caixão
  O barbeiro, o aluguel do rabecão
  O vinho do padre, o sacristão
  E o sermão na igreja gótica
  
  - Gente, não tem gente
  Tem parente pobre só
  - Esse teu modelo
  Mais parece um dominó
  - Nem o indigente
  Quis herdar seu paletó
  - Vai sobrar para a gente
  Que nem viu ele vivo
  - Tem até um passivo
  No caderno do Jacó
  
  
  
  1986 © - Marola Edições Musicais Ltda.