Tempo E Artista
                          
                               Imagino o artista num anfiteatro
  Onde o tempo é a grande estrela
  Vejo o tempo obrar a sua arte
  Tendo o mesmo artista como tela
  
  Modelando o artista ao seu feitio
  O tempo, com seu lápis impreciso
  Põe-lhe rugas ao redor da boca
  Como contrapesos de um sorriso
  
  Já vestindo a pele do artista
  O tempo arrebata-lhe a garganta
  O velho cantor subindo ao palco
  Apenas abre a voz, e o tempo canta
  
  Dança o tempo sem cessar, montando
  O dorso do exausto bailarino
  Trêmulo, o ator recita o drama
  Que ainda está por ser escrito
  
  No anfiteatro, sob o céu de estrelas
  Um concerto eu imagino
  Onde, num relance, o tempo alcance a glória
  E o artista, o infinito