Supõe
                          
                               Supõe que já cruzamos pela vida
  Mas nos deixamos sempre para trás
  Porque eu andava sempre na avenida
  E tu corrias pelas transversais
  Supõe que num comício colorido
  A praça, enfim, vai nos conciliar
  Supõe que somos do mesmo partido
  Supõe a praça a se inflamar
  Bandeiras soltas pelo ar
  E tu começas a cantar
  Supõe que eu vibro, comovida
  E supõe que eu sou tua canção
  
  Supõe que te apresentas como amigo
  E me perguntas nome e profissão
  Comentas que faz sol, ou tem chovido
  Ou outro comentário sem razão
  Supõe que eu te observo, compreensiva
  Porém não tenho nada a acrescentar
  Supõe que falas coisas dessa vida
  Como querendo aparentar
  Que tu tens muito o que contar
  Que és um tipo original
  Supõe que rio, divertida
  E supõe que eu sou tua canção
  
  Supõe que nós marcamos um cinema
  Mas chegas lá pro meio da sessão
  Pois teu trajeto tem algum problema
  Que só te leva numa direção
  Supõe que agora a tela me ilumina
  Tu ficas assistindo ao meu perfil
  Supõe a minha mão tão recolhida
  Que não percebe a tua mão
  Que não percebe a minha mão
  Que não é sim, que não é não
  Supõe que eu sigo distraída
  E supõe que eu sou tua canção
  
  Supõe que a boa sorte é nossa amiga
  E que das 3 às 5 pode ser
  Meu pai acaba de dobrar a esquina
  E tu vens me encontrar, enfim mulher
  Supõe que sem pensar nos abraçamos
  Supõe que tudo está como previmos
  É a primeira vez que nos amamos
  Supõe que falas sem parar
  Supõe que o tempo vem e vai
  Supõe que és sempre original
  Supõe que nós não nos despimos
  E supõe que eu sou tua canção
  
  
  
  (Silvio Rodrigues - versão de Chico Buarque/1982
  Gravada no disco Nasci para bailar - Nara - Philips)