O Ladrão
                          
                               Minha mãe sempre teve muito medo de mim
  A gente morava num rancho de beira de estrada
  E despois que meu pai morreu
  era costume a gente dá pousada aos viajantes que por ali passava
  E quando arguém chegava
  Minha mãe logo me vigiava como quem vigia um ladrão
  Isso porque já numa ocasião
  eu tinha furtado o relógio de um boiadeiro
  E de outra feita a abotoadura de ouro de um fazendeiro
  
  Mais naquela noite que eu vô contá pro cêis
  Eu não queria matá, juro que nunca pensei nisso
  Eu acho que foi o diabo que se meteu no meio
  Eu só queria robá, foi assim
  Chegaro lá em casa três pessoa
  dois cavaleiro e uma muié com jeito de muié rica
  Um era o bagagero dela, o outro devia sê o seu capataz
  E eu de repente oiei na mão da tár muié
  e vi uma borsa de dinheiro
  Logo me veio então aquela, como sempre
  aquela vontade esquisita
  Ah! minha triste sentença
  As coisa errada que às vez parpita no coração da gente
  
  Corri lá pro terrêro pra mode disfarçá e fiquei esperando
  Eu sabia que minha mãe já devia tá desconfiada
  Mais eu não me governava, aquela vontade
  aquela vontade louca de robá
  Onze hora, meia-noite, uma hora
  O tempo passando, eu era só ouvido
  Ah! como o tempo fica comprido
  Quando a gente espera pela hora do robo
  
  Um passarinho da noite meio bobo que piasse lá longe
  O chacoaio de um cavalo sem arreio
  O quebrá de um graveto, um gaio no mato
  Tudo eu podia ouvi, eu era um gato
  Então remexendo as pessoa nos quarto
  eu quis corrê dali, de fugi
  Mas quando eu já vi
  eu já tava na solêra da porta do quarto da tár muié
  
  Com a ponta da minha faca
  eu abri a trimela do quarto dela e entrei
  Entrei na ponta dos pé no quarto dela
  ela drumia, tava escuro, ressonava
  Uma respiração ronquenha de quem descansava
  despois de um dia duro
  E eu no escuro tremia, eu suava
  as perna bambeava de medo de arguém acordá
  
  Então procurei, procurei em tudo os canto assim do quarto com a minha mão
  Apartei debaixo da cama, entre os colchão e tudo
  Aí eu quis oiá perto do travesseiro
  Só podia tá ali aquela borsa de dinheiro
  
  Foi nessa hora que o vulto da muié num susto acordô
  Acordô e quis gritá no escuro
  Agarrei depressa com a mão na boca assim
  e outra mão na garganta dela e apertei
  Apertei, o vulto esperneava e rugia desesperado
  e eu cheio de medo amalucado
  aí peguei com as duas mão
  com força assim no pescoço dela e fui apertando
  E fui apertando, o vulto esperneando
  com a força dos meus dedo
  Ela fraquejô de repente, então desceu pro chão desfalecida
  e não se mexia mais
  Foi quando entrô no quarto
  o capataz trazendo aceso um lampião alumiando tudo
  Ainda assustado, olho no chão, no vulto
  no vulto caído e fico mudo
  Na luz alumiada óio e reóio assustado
  e num grande susto sorto um grito abafado
  Ah! meu Deus! Minha mãe
  Só de medo de eu robá
  aquela visitante tinha trocado de quarto com ela
  e eu tinha matado a minha mãe naquele instante
  Por isso é que eu digo que minha mãe
  sempre teve muito medo de mim