A Rua
                          
                               Toda rua tem seu curso
  Tem seu leito de água clara
  Por onde passa a memória
  Lembrando histórias de um tempo
  Que não acaba
  
  De uma rua, de uma rua
  Eu lembro agora
  Que o tempo, ninguém mais
  Ninguém mais canta
  Muito embora de cirandas
  (Oi, de cirandas)
  E de meninos correndo
  Atrás de bandas
  
  Atrás de bandas que passavam
  Como o rio Parnaíba
  Rio manso
  Passava no fim da rua
  E molhava seus lajedos
  Onde a noite refletia
  O brilho manso
  O tempo claro da lua
  
  Ê, São João, ê, Pacatuba
  Ê, rua do Barrocão
  Ê, Parnaíba passando
  Separando a minha rua
  Das outras, do Maranhão
  
  De longe pensando nela
  Meu coração de menino
  Bate forte como um sino
  Que anuncia procissão
  
  Ê, minha rua, meu povo
  Ê, gente que mal nasceu
  Das Dores, que morreu cedo
  Luzia, que se perdeu
  Macapreto, Zé Velhinho
  Esse menino crescido
  Que tem o peito ferido
  Anda vivo, não morreu
  
  Ê, Pacatuba
  Meu tempo de brincar já foi-se embora
  Ê, Parnaíba
  Passando pela rua até agora
  Agora por aqui estou com vontade
  E eu volto pra matar esta saudade
  
  Ê, São João, ê, Pacatuba
  Ê, rua do Barrocão