O Fim da História
                          
                               Não creio que o tempo
  Venha comprovar
  Nem negar que a História
  Possa se acabar
  
  Basta ver que um povo
  Derruba um czar
  Derruba de novo
  Quem pôs no lugar
  
  É como se o livro dos tempos pudesse
  Ser lido trás pra frente, frente pra trás
  Vem a História, escreve um capítulo
  Cujo título pode ser "Nunca Mais"
  Vem o tempo e elege outra história, que escreve
  Outra parte, que se chama "Nunca É Demais"
  "Nunca Mais", "Nunca É Demais", "Nunca Mais"
  "Nunca É Demais", e assim por diante, tanto faz
  Indiferente se o livro é lido
  De trás pra frente ou lido de frente pra trás
  
  Quantos muros ergam
  Como o de Berlim
  Por mais que perdurem
  Sempre terão fim
  
  E assim por diante
  Nunca vai parar
  Seja neste mundo
  Ou em qualquer lugar
  
  Por isso é que um cangaceiro
  Será sempre anjo e capeta, bandido e herói
  Deu-se notícia do fim do cangaço
  E a notícia foi o estardalhaço que foi
  Passaram-se os anos, eis que um plebiscito
  Ressuscita o mito que não se destrói
  Oi, Lampião sim, Lampião não, Lampião talvez
  Lampião faz bem, Lampião dói
  Sempre o pirão de farinha da História
  E a farinha e o moinho do tempo que mói
  
  Tantos cangaceiros
  Como Lampião
  Por mais que se matem
  Sempre voltarão
  
  E assim por diante
  Nunca vai parar
  Inferno de Dante
  Céu de Jeová